sábado, 1 de junho de 2013

ECONOMIA DO CASAMENTO II: O segundo modelo

Até agora, nós modelamos o mercado de casamento de uma forma projetada para fazê-lo parecer o mais semelhante possível aos mercados mais convencionais (publicado no artigo da semana passada). O próximo passo é mudar para um modelo completamente diferente - que alguns de vocês podem achar mais “realista”.




Começamos assumindo que não há nenhuma maneira dos cônjuges ofertar preço para os outros agentes, implícita ou explícitamente. Em função disso se dificulta o compromisso de cumprir contratos, especialmente em uma sociedade onde o divórcio é relativamente difícil. A estratégia óbvia em tal situação é "prometer nada, mas não lavar a louça." Pagamentos em dinheiro real entre os companheiros são impraticáveis, ​​se após o casamento, toda a propriedade é dividida em comum (comunhão de bens), há pouco espaço para usar o oportunismo (em tese).

Em tal sociedade, o mercado de casamento é um mercado sem um preço, podemos lembrar  dos professores Alvin E. Roth e Lloyd S. Shapley laureados com o premio Nobel de Economia de 2012 por - "a teoria de alocações estáveis ​​e a prática de desenho de mercado". Assim a ausência de um preço não elimina o problema fundamental da escassez, mas apenas significa que outros meios de alocar a escassa oferta de companheiros desejáveis ​​(de ambos os sexos) devem ser encontradas.

Vamos agora incluir explicitamente uma das características que mais cedo empurrados para o fundo do baú - a qualidade subjetiva dos companheiros. Supomos que todos os companheiros potenciais de cada sexo podem ser organizados em uma hierarquia que vão desde "mais desejável" para "menos desejável" e que todos concordam em que pertence a essa escala.

Nós agora temos um mecanismo de racionamento muito simples. A mulher mais desejável tem sua melhor posição na escolha de companheiros, então ela aceita o homem com melhores atributos e ele pelo mesmo principio só está interessado nela “The Best”.  Descendo a escala a segunda mulher mais desejável gostaria do homem mais desejável, mas ele já está comprometido, de modo que ela se contenta com o segundo homem mais desejável "Second Best". O processo continua até que todos os membros de qualquer gênero estejam com seus pares, entretanto os membros menos desejáveis ​​do outro sexo ficam solteiros ou como dizemos "encalhados" (Olha a festa de Santo Antonio chegando!).

Suponha que agora vamos introduzir a poligamia. A mulher mais atraente pode não estar certo de se casar com o homem mais atraente. E o homem pode também preferir duas mulheres menos atraentes - e eles podem preferir trocar a metade dele(a) por um homem ou mulher menos atraente, ou seja, 1 homem bom vale 2 homens médios. Se menos homens do que as mulheres querem se casar, algumas mulheres podem estar escolhendo a metade de um homem bom sobre a alternativa de não ter marido completo ou bom para se casar – melhor posicionado.

O resultado não é mais uma melhoria inequívoca do ponto de vista das mulheres, como foi no primeiro modelo. Algumas mulheres no topo da ranking aceitam homens menos atraentes. Também não é um agravamento inequívoco; algumas mulheres que foram previamente solteiras podem agora ter (metade) de um marido, enquanto outras podem chegar a metade de um homem, em vez de ter um idiota completo ao seu lado, só teria metade.

Assim alguns homens se beneficiariam, obtendo duas esposas, em vez de uma. Além disso, cada vez que um homem perto do topo da hierarquia troca 1 por duas (de qualidade inferior), em vez de uma mulher (de elevada qualidade), ele desce um degrau da escada; os homens abaixo dele mover-se de uma etapa final com mulheres mais desejáveis ​​do que poderiam ter antes. 

Como pode a mudança ferir os homens? Um homem é pior do que algum acima dele? É possível que 1 tenho o valor de 2 ou 3 homens? Sim em nossa escala é. Tal como no primeiro modelo, o argumento pode ser repetido diversas vezes em “n” amostras sociais. Mas quando a poliandria (uma mulher, com dois ou mais maridos) se torna legal, alguns homens que estão no topo da escala certamente perdem o valor, alguns podem ir para perto do fundo - em particular – alguns (risos), aqueles que antes poderiam casar com facilidade agora teriam sérios problemas. Logo as mulheres podem ganhar todas, caso o modelo seja adotado!

Agora podemos perguntar: Qual o peso dos elementos além “preço” para a escolha?! Os critérios de melhor ou pior escolha dependem de uma escala muito subjetiva criada pelos cônjuges, por exemplo: a) qualidades acadêmica, b) potencial de renda, c) bom histórico familiar (estruturação), d) religioso, e) poucos relacionamentos passados, f) educado, g) sociável  e h) viril. Tendo esses conceitos ranqueados em uma escala de {0 |---| 10} pode ser uma das formas usadas para escolhas dos parceiros, mas a grande questão é que não somos dotados (acredito eu) de tamanha racionalidade para escolher a melhor ou o melhor do “Rank”, pois os sentimentos; amor, paixão, sexo, tara ou qualquer coisa sei lá o que... Inviabilizam o processo decisório com maior clareza e por isso abrem espaços para erros e graves conflitos passionais... MAS ASSIM É MELHOR!



“Quem já passou por essa vida e não viveu 
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu 
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu 
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não 
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Vinicius de Moraes & Toquinho




4 comentários:

  1. muito interessante suas observações. o mecanismo de matching é muito discutido em economia matemática. qual é a tua contribuição? o que difere do mecanismo tradicional do Shapley?

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  2. Meu caro não tenho conhecimento na aplicação matemática do mecanismo de Matching, o que fiz nesse artigo foi apenas comentar que é possível usar cálculos de otimização mesmo que não tenhamos as variáveis de preço. Abs e grato por comentar.

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  3. Quando tem química um com o outro não importa se é o melhor ou não. Suas observações foram muito pertinentes. Tem o terceiro modelo?! (risos)

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  4. Podemos pensar em um 3 modelo, para incluir outra variáveis.

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