Até agora, nós modelamos o mercado de
casamento de uma forma projetada para fazê-lo parecer o mais semelhante
possível aos mercados mais convencionais (publicado no artigo da semana
passada). O próximo passo é mudar para um modelo completamente diferente - que
alguns de vocês podem achar mais “realista”.
Começamos assumindo que não há nenhuma
maneira dos cônjuges ofertar preço para os outros agentes, implícita ou
explícitamente. Em função disso se dificulta o compromisso de cumprir contratos, especialmente
em uma sociedade onde o divórcio é relativamente difícil. A estratégia óbvia em
tal situação é "prometer nada, mas não lavar a louça." Pagamentos em
dinheiro real entre os companheiros são impraticáveis, se após o casamento,
toda a propriedade é dividida em comum (comunhão de bens), há pouco espaço para
usar o oportunismo (em tese).
Em tal sociedade, o mercado de
casamento é um mercado sem um preço, podemos lembrar dos professores Alvin E. Roth e Lloyd S.
Shapley laureados com o premio Nobel de Economia de 2012 por - "a
teoria de alocações estáveis e a prática de desenho de mercado". Assim a
ausência de um preço não elimina o problema fundamental da escassez, mas apenas
significa que outros meios de alocar a escassa oferta de companheiros
desejáveis (de ambos os sexos) devem ser encontradas.
Vamos agora incluir explicitamente uma
das características que mais cedo empurrados para o fundo do baú - a qualidade
subjetiva dos companheiros. Supomos que todos os companheiros potenciais de
cada sexo podem ser organizados em uma hierarquia que vão desde "mais
desejável" para "menos desejável" e que todos concordam em que
pertence a essa escala.
Nós agora temos um mecanismo de
racionamento muito simples. A mulher mais desejável tem sua melhor posição na escolha
de companheiros, então ela aceita o homem com melhores atributos e ele pelo
mesmo principio só está interessado nela “The
Best”. Descendo a escala a segunda
mulher mais desejável gostaria do homem mais desejável, mas ele já está comprometido,
de modo que ela se contenta com o segundo homem mais desejável "Second Best". O processo
continua até que todos os membros de qualquer gênero estejam com seus pares, entretanto os membros menos desejáveis do outro sexo ficam solteiros ou como dizemos "encalhados" (Olha a festa de Santo Antonio chegando!).
Suponha que agora vamos introduzir a
poligamia. A mulher mais atraente pode não estar certo de se casar com o homem
mais atraente. E o homem pode também preferir duas mulheres menos atraentes - e
eles podem preferir trocar a metade dele(a) por um homem ou mulher
menos atraente, ou seja, 1 homem bom vale 2 homens médios. Se menos homens do que as mulheres querem se casar, algumas
mulheres podem estar escolhendo a metade de um homem bom sobre a alternativa de
não ter marido completo ou bom para se casar – melhor posicionado.
O resultado não é mais uma melhoria
inequívoca do ponto de vista das mulheres, como foi no primeiro modelo. Algumas
mulheres no topo da ranking aceitam homens menos atraentes. Também não é um
agravamento inequívoco; algumas mulheres que foram previamente solteiras podem
agora ter (metade) de um marido, enquanto outras podem chegar a metade de um
homem, em vez de ter um idiota completo ao seu lado, só teria metade.
Assim alguns homens se beneficiariam,
obtendo duas esposas, em vez de uma. Além disso, cada vez que um homem perto do
topo da hierarquia troca 1 por duas (de qualidade inferior), em vez de uma
mulher (de elevada qualidade), ele desce um degrau da escada; os homens
abaixo dele mover-se de uma etapa final com mulheres mais desejáveis do que
poderiam ter antes.
Como pode a mudança ferir os homens?
Um homem é pior do que algum acima dele? É possível que 1 tenho o valor de 2
ou 3 homens? Sim em nossa escala é. Tal como no primeiro modelo, o argumento
pode ser repetido diversas vezes em “n” amostras sociais. Mas quando a poliandria (uma mulher, com dois ou mais maridos) se torna
legal, alguns homens que estão no topo da escala certamente perdem o valor, alguns
podem ir para perto do fundo - em particular – alguns (risos), aqueles que
antes poderiam casar com facilidade agora teriam sérios problemas. Logo as
mulheres podem ganhar todas, caso o modelo seja adotado!
Agora podemos perguntar: Qual o
peso dos elementos além “preço” para a escolha?! Os critérios de melhor ou pior
escolha dependem de uma escala muito subjetiva criada pelos cônjuges, por
exemplo: a) qualidades acadêmica, b) potencial de renda, c) bom histórico
familiar (estruturação), d) religioso, e) poucos relacionamentos passados, f)
educado, g) sociável e h) viril. Tendo
esses conceitos ranqueados em uma escala de {0 |---| 10} pode ser uma das
formas usadas para escolhas dos parceiros, mas a grande questão é que não somos
dotados (acredito eu) de tamanha racionalidade para escolher a melhor ou o
melhor do “Rank”, pois os sentimentos; amor, paixão, sexo, tara ou qualquer
coisa sei lá o que... Inviabilizam o processo decisório com maior clareza e por
isso abrem espaços para erros e graves conflitos passionais... MAS ASSIM É
MELHOR!
“Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão”
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão”
Vinicius
de Moraes & Toquinho
muito interessante suas observações. o mecanismo de matching é muito discutido em economia matemática. qual é a tua contribuição? o que difere do mecanismo tradicional do Shapley?
ResponderExcluirMeu caro não tenho conhecimento na aplicação matemática do mecanismo de Matching, o que fiz nesse artigo foi apenas comentar que é possível usar cálculos de otimização mesmo que não tenhamos as variáveis de preço. Abs e grato por comentar.
ResponderExcluirQuando tem química um com o outro não importa se é o melhor ou não. Suas observações foram muito pertinentes. Tem o terceiro modelo?! (risos)
ResponderExcluirPodemos pensar em um 3 modelo, para incluir outra variáveis.
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