Esse tema é muito mais comum do que
você imagina. Casamento e Economia é um tema muito comum nos EUA: em capítulos de livros,
tese de doutorado e até livros inteiros dedicados ao assunto, grandes nomes da
economia já escreveram sobre o matrimônio, dentre eles Gary Becker ganhador do
premio Nobel de economia de 1992, no trabalho “A teoria do casamento”. Mas
vamos tentar falar do tema no âmbito além da teoria econômica.
Começamos nossa discussão sobre
casamento tomando-se o mesmo como um dado adquirido. Assumimos que algumas
pessoas querem se casar com outras pessoas e que essas pessoas preferem alguns
potenciais parceiros para os outros. Assumimos também que, embora os cônjuges,
potenciais e reais parceiros, podem colocar um valor considerável no bem-estar
do outro (ou seja, quantificar) ainda há espaço para algum conflito de
interesses entre eles. Há, portanto, também espaço para alguma negociação sobre
os termos, implícita ou explícita, do matrimônio.
Para aumentar o interesse da
discussão, vou me concentrar em uma questão política particular. Em nossa
sociedade, são permitidos apenas os casamentos monogâmicos - um marido, uma
esposa. Em diversas outras sociedades, casamentos polígamos (um marido, duas ou
mais esposas) e casamentos poliândricas (uma mulher, dois ou mais maridos). Qual seria o efeito de legalizar a poligamia ou a
poliandria sobre bem-estar dos homens? Ou o bem-estar das mulheres? No
bem-estar líquido de todos os interessados? Não sei, mas podemos tentar...
A fim de responder a essa pergunta,
precisamos de um modelo formal do mercado de casamento. Vou trabalhar as
implicações de dois diferentes. O primeiro é projetado para tornar o mercado de
casamento parecido com os mercados com os quais estamos acostumados (oferta e
demanda em concorrência perfeita), o segundo é projetado para enfatizar dois
dos aspectos em que ele difere de tais mercados, mas faremos a apresentação do
modelo 2 na próxima semana (igual na novela... próximo capítulo)!
Modelo 1
Para o nosso primeiro modelo, então,
vamos pensar no mercado de casamento como um mercado comum, com um preço. O
preço é definido em relação a um contrato de casamento “padrão”. Qualquer outro
contrato pode ser visto como um modelo de contrato de mais ou menos um
determinado número de reais pagos pelo marido à mulher, o que paga mais representa um contrato mais favorável para a mulher do que o “padrão”, enquanto que paga menos
representa um menos favorável. A oferta e a procura se comportam como em
qualquer outro mercado.
Assim a quantidade ofertada de
mulheres - o número de mulheres dispostas a se casar - será maior, e a
quantidade demandada menor, maior o preço. O modelo é totalmente simétrico, assim
podemos facilmente falar da quantidade demandada e quantidade ofertada de
maridos. Contanto que todos os casamentos são
monogâmicos, o número de maridos fornecidos e o número de esposas exigidas são
os mesmos, uma vez um homem que busca se tornar um marido é um homem que busca obter uma esposa, assim como, em um mercado de troca.
Imagine, por exemplo, que uma praga
mata muitas mulheres jovens em idade de casar. Assim depois da praga é fácil para as
mulheres jovens acharem homens em grande oferta para se casar. Um resultado que
seria de esperar é uma mudança de o "preço" associada com o
casamento.
Numa sociedade onde as mulheres são
escassas, o homem que prometeu antes do casamento fazer tudo o que sua
esposa quis, tem que se mostrar menos acomodado depois de casado, pois outro
homem estará disposto a tomar o seu lugar. Da mesma forma, se uma guerra
reduzir significativamente a população de homens em idade de casar.
O que podemos concluir nesse modelo
simples é que o comportamento dos agentes (homens ou mulheres) está
condicionado à oferta, assim quanto mais “abundante” um bem menor o seu “preço”
e menor será o compromisso em se comprometer com o estabelecido em contrato no
momento do matrimônio, ou seja o oportunismo dos agentes se manifestará ex-post a assinatura do contrato e o
risco de perda da "amada/amado" será minimizado pela facilidade da troca.
Entretanto, existem alguns fatores
subjetivos de grande relevância que não foram considerados no modelo (1)
apresentado e serão incluídos no modelo (2), como: a) não existe preço objetivo
pra os cônjuges, como mensurar esse valor? b) a ausência de preço não elimina a
escassez de bens (homens e mulheres) c) homens e mulheres “pegadores” tem um
preço diferente ou uma atração diferente no mercado? d) como o “tratar bem”,
parecer cuidadoso ou atencioso pode gerar vantagens e desvantagens
competitivas?
Essas e outras questões estarão em
nosso próximo capitulo. Aguardem!
"Quando te vi passar fiquei
paralisado
Tremi até o chão como um terremoto no
Japão
Um vento, um
tufão
Uma batedeira
sem botão
Foi assim viu
Me vi na sua
mão"